sábado, 8 de novembro de 2008

Anorexia Nervosa



Falarei nessa postagem sobre um dos transtornos alimentares, a anorexia nervosa. Ela tem início, geralmente, na adolescência, mais especificamente entre 15 e 18 anos. Nesta fase ocorrem mudanças marcantes na fisiologia e bioquímica, com um acúmulo pronunciado de gordura, especialmente nas mulheres. O ganho de gordura durante a adolescência cessa e até se reverte nos homens, enquanto nas mulheres continua a aumentar, chegando a um índice de gordura corporal de 27% aos 16 anos. Essa doença pode ser em resposta a uma má aceitação das mudanças corporais, principalmente do peso, e, associado a fatores psicológicos individuais e familiares e ao forte apelo sociocultural do culto à magreza.



A anorexia nervosa é definida basicamente por apresentar uma extrema restrição energética auto-imposta tendo como objetivo a perda excessiva de peso.

Os sintomas mais comuns deste distúrbio incluem a manutenção do peso corporal inferior a 85% do que é considerada adequada para estatura e idade, presença de medo obsessivo e irracional de engordar, percepção alterada da imagem corporal, distúrbios menstruais, desmineralização óssea, perda de massa muscular e gordura corporal, irregularidades digestivas, arritmias cardíacas, desidratação, intolerância ao frio (mãos e pés), cabelos finos e fracos, entre outros.

Quem apresenta essa doença são chamados de anoréxicos. Eles têm hábito de jejuar, peculiaridades nas preferências alimentares e aversões específicas por alimentos ou grupos de alimentos.


Existe uma classificação nesse grupo de anoréxicos: Podem ser chamados do tipo restrição ou do tipo ingestão excessiva de alimentos/purgação. O tipo da restrição se refere à pessoa que restringe sua alimentação, principalmente os macronutrientes carboidratos e lipídeos, sem ter o hábito de métodos purgativos ou compulsões. Já quem é do tipo ingestão excessiva de alimentos/purgação tem o hábito de comer excessivamente, é claro, mas com métodos purgativos.

Indivíduos anoréxicos podem apresentar freqüentemente a hipercolesterolemia, que é o colesterol em quantidade superior ao normal no sangue; Também pode aparecer a hipoglicemia e anormalidades dos fluidos e eletrólitos (principalmente do fósforo), podendo levar a complicações cardiológicas, neurológicas, hematológicas e até à morte súbita.
No caso da hipercolesterolemia, a sua causa não é completamente conhecida. Decorre, provavelmente, da redução dos níveis de T3 e da globulina carreadora de colesterol e/ou da diminuição da excreção fecal de ácidos biliares e colesterol. Há estudos que indicam a elevação do colesterol total à custa do LDL-colesterol.
Estudos sobre hipoglicemia revelaram que cerca de 56% dos pacientes anoréxicos tem glicemia menor que 70 mg/dl.

Vale ressaltar bem as complicações relativas às alterações endócrinas, pois como nesse transtorno há perda significante de peso, encontra-se uma gravidade maior destas.
Foram relatados níveis reduzidos de leptina, uma vez que seus níveis se correlacionam com a massa de tecido adiposo. Este hormônio parece controlar a função reprodutiva e a ingestão alimentar por ação hipotalâmica.
Amenorréia, definida como a falta ou interrupção do fluxo menstrual, com menos de 2 ciclos menstruais por ano, pode ser acompanhada de várias anormalidades como regressão dos ovários para estágios pré-puberais com múltiplos pequenos folículos, regressão do tamanho mamário e, às vezes, perda parcial dos pelos pubianos. O útero, também se encontra diminuído e observam-se mudanças atróficas na parede vaginal. A infertilidade pode ocorrer, porém ovulações ocasionais podem acontecer.
Anorexia Nervosa também ocorre no sexo masculino, apesar de mais rara. Quando ocorre, geralmente está acompanhada de níveis baixos de testosterona, FSH e LH, associados a uma redução do volume testicular com oligo ou azospermia.

Em relação à densidade mineral óssea, em muitos casos já se encontra um quadro ruim, abaixo do normal. Este comprometimento ocorre tanto no osso trabecular quanto no cortical. A má nutrição reduz a formação nova de osso, que associada à puberdade atrasada decorrente da redução do estrogênio endógeno, ao hipercortisolismo, à diminuição da ingestão de cálcio, proteínas e vitamina D, favorece a queda da densidade mineral óssea, levando a uma diminuição ou suspensão do crescimento ósseo linear. Quando a AN ocorre na fase precoce da puberdade, pode ocorrer osteopenia ou até mesmo osteoporose irreversível, favorecendo a ocorrência de fraturas patológicas. A osteopenia também pode ocorrer no sexo masculino, em decorrência da diminuição da testosterona.

Uma pele pálida, seca, sem brilho e, por vezes coberta por uma fina camada de pêlos (lanugo) são achados freqüentes na AN. O lanugo pode decorrer de uma redução da atividade da enzima 5-alfa redutase e/ou do estado de hipotiroidismo. Pode ser ainda observada uma coloração amarelada da pele, decorrente dos níveis elevados de caroteno.

A diminuição dos caracteres sexuais secundários e a perda do contorno do quadril e nádegas são outros achados comuns. Os pêlos e cabelos encontram-se ralos, finos e opacos, muitas vezes quebradiços e avermelhados (típicos da desnutrição). As unhas podem se encontrar quebradiças e com crescimento lento, favorecendo o desenvolvimento de micoses.

A hipotensão (baixa pressão arterial) e bradicardia (baixa freqüência cardíaca) podem ser encontradas, resultando no estado de depleção crônica de volume circulante.

No decorrer do tratamento desses pacientes pode-se apresentar a chamada síndrome de realimentação. Esta síndrome é caracterizada por um colapso cardiovascular após a introdução da alimentação em um paciente desnutrido. Ocorre devido à sobrecarga de ingestão calórica na presença de reduzida capacidade do sistema cardiovascular.

O edema pulmonar pode ocorrer secundário à falência cardíaca congestiva na síndrome de realimentação.

A concentração urinária pode estar reduzida devido a níveis flutuantes de ADH e da grande ingestão de líquidos de baixa caloria, como modo de protelar a fome. A redução da osmolaridade da medula renal (denominado de fenômeno da medula lavada), a inanição (estado em que a pessoa encontra-se extremamente enfraquecida) e a diminuição da uréia levam também a diminuição da concentração urinária. Como conseqüência da desidratação, pode ocorrer azotemia pré-renal, onde o nível de dejetos do tipo nitrogenados é anormalmente elevado na corrente sangüínea.

Como parte das alterações hidroeletrolíticas, causadas pelo uso de laxantes, diuréticos e o vômito induzido, podemos citar a hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue) que pode ser uma conseqüência da grande ingestão de água ou às flutuações do hormônio antidiurético (ADH). Também a hipocalemia, baixa concentração de potássio.
A hiperfosfatemia (alta concentração de fósforo) pode ser conseqüência da desnutrição ou surgir após a realimentação como parte da chamada síndrome de realimentação.

A dilatação gástrica pode ocorrer como complicação na fase dessa realimentação abrupta ou nos casos de ingestão de grandes quantidades de alimentos. Observa-se também um retardo no esvaziamento gástrico, os quais se queixam de sensação de plenitude pós - prandial e distensão abdominal.

Em relação a anormalidades de vitaminas e minerais, pode-se citar a hipercarotenemia. Pelo nome, poderíamos supor que é causada pela ingestão dietética excessiva de caroteno, porém, essa tese é menos suspeita. A atribuição é dada a mobilização dos estoques de lipídeos, alterações catabólicas causadas pela perda de peso e pelo estresse metabólico.

A taxa metabólica destes pacientes é baixa. A perda de peso, a diminuição da massa magra, a restrição de energia e os níveis diminuídos de leptina estão implicados nesse estado hipometabólico.




By: Jéssica Weber



Fontes: http://www.scielo.br/ - Scientific Electronic Library Online
Krause: Alimentos, Nutrição & Dietoterapia. Autor: Mahan, L. Kathleen.

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